Era normal que isso acontecesse. Afinal, entre duas viagens para a Europa (a trabalho, por favor), um sujeito que mora sozinho como eu só poderia esquecer de pagar algumas continhas. O que eu não imaginava é que uma delas seria justamente… a da TV a cabo. Diabos, este fiozinho branco é item indispensável na minha vida, como viver sem ele (parafraseando Homer Simpson)? Resultado: eles cortaram meu fornecimento de diversão a cabo. E como eu só teria alguma grana sobrando na semana seguinte… fiquei exatos sete dias à mercê dos perigos da TV aberta.
Eu moro sozinho (com um cachorro chamado Ozzy). Não tenho namorada e nem tampouco um ‘casinho’. Meu computador de casa está quebrado – o bichinho já passou pelas mãos de dois técnicos diferentes e nada de voltar a funcionar. Que Deus o tenha. Já li e reli milhares de vezes todos os meus gibis. Devoro as minhas revistas semanais em no máximo meia-hora. Meu videogame está emprestado para o R.Pichuebas. E depois de escrever tanto o dia inteiro, como bom jornalista que sou, a última coisa que eu quero é chegar em casa e ter que gastar mais neurônios com um livro denso. Tudo que eu queria era o bom e velho entretenimento pop preenchendo as minhas veias. Mas… não rolou. Então, acabei tendo que experimentar o bizarro mundo da Globo, do SBT, da Record…
Faziam quase oito meses que eu nem sequer passava por qualquer emissora de TV aberta. E constatei que nada mudou. Absolutamente. Vi, por exemplo, a estréia da tal novela Celebridade, atração global das 20h. Apesar de algumas coisinhas divertidas (e extremamente reais, como posso constatar na redação do meu próprio jornal), é a mesma bobagem de antes. Os ricos bozinhos, os pobres querendo subir na vida, as piadas de mau gosto, os peitos de fora (Deborah Secco e Juliana Paes), as bundas de fora (Thiago Lacerda)… Tudo seguindo aquela velha fórmula do padrão Globo de qualidade.
Admito: foi bom rever algumas piadas do Casseta & Planeta e da Grande Família (que não são de todo ruins) e também o retorno da série Cidade dos Homens. Junto com o El Cid, redescobri os horários de séries do SBT – e aprendi a gostar ainda mais de Smallville. Mas, do outro lado, quase vomitei quando tive que me deparar com a temível programação dominical. Fico indignado ao ver um calhorda como o Sr.Gugu Liberato apresentando um programa impunemente, como se nada tivesse acontecido depois daquela armação com os sujeitos do PCC. E o que é pior: o Domingo Legal reúne as mesmas vagabundas e descerebrados de sempre, todos pseudo-celebridades irritantemente querendo aparecer…
Um dos momentos mais dolorosos da semana foi, sem dúvida, quando me forcei a ver aquela estupidez que atende pelo nome de Superpop. A poderosa Luciana Gimenez é um espetáculo de mulher, mas a tal olimpíada entre astros instântaneos que ela fez no último sábado foi de doer o estômago… Quando começaram as brincadeiras da camiseta molhada, fiquei com saudades dos meus canais pornôs da TV a cabo. Pelo menos ali a putaria é mais sincera.
Fiquei extremamente deprimido ao assistir a , retrato da decadência de grandes nomes do nosso humor, como o impagável Zé Bonitinho, obrigado a contracenar com a pavorosa Luiza Ambiel. Deus, onde vamos parar?
Pagar a fatura da operadora foi um prazer quase orgástico na semana seguinte. Quase chorei quando puder ver as reprises de Seinfeld e os episódios dos Simpsons sem o tratamento boçal da Globo. Valeu a pena até rever a cara de bolacha do Jay Leno e os cabelos encaracolados daquela mala-sem-alça do Felicity…
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Ah, é: agora eu também tenho blog, que luxo. Coisa fina mesma. Vai lá conhecer um pouco mais da minha vida, meu!
http://tutufigurinhas.blog.aol.com.br
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* Esta coluna foi escrita ao som da banda carioca Matanza. Pé na porta e soco na cara procê. Vale a pena conhecer este som para beber e brigar. É country, é rock, é hardcore, é ducaralho. Conheça: www.matanza.com.br
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