O título nacional desta primeira edição do super-herói Madman é definição suficiente do que vem pela frente: Curso Relâmpago Para Quem Quer Se Divertir. E é exatamente isso que as histórias da mais célebre criação de Mike Allred, editadas pela primeira vez no Brasil, oferecem: pura e simplesmente diversão. E da melhor qualidade.
Para quem não conhece Madman, cabe aqui uma apresentação: apesar do típico uniforme estrombólico (inspiração direta de um certo Freakazoid), o sujeito não se enquadra na categoria “super-herói que estamos acostumados a ver sempre na Marvel e/ou na DC”. Frank Einstein (seu alter-ego) sofreu um misterioso acidente de carro e teve seu corpo reconstruído por um cientista louco. Nada se sabe sobre seu passado. Mas pouco importa, para ser sincero. O uniforme e a máscara, inspirados em seu herói de infância, ajudam a esconder seu corpo cinzento e cheio de cicatrizes. Madman não gosta de brigar – e, quando luta, se pega divagando entre socos e pontapés a respeito do sentido da vida. Admite até ser um tanto medroso e adora fazer amigos. Salva vidas na cidade de Snap City meio a contragosto. Simpático, romântico e apaixonado, cai de amores por sua namorada, a ruivinha jornalista Joe – que, com seu sorriso maroto e suas sardas, é a mais pura expressão do quão verdadeiro e real pode ser um personagem de gibis. A moça caberia perfeitamente nas páginas de Estranhos no Paraíso e poderia muito bem ser sua vizinha, daquele tipo por quem você apaixonaria na infância e até deixaria ler o seu diário (Êpa!).
Quem se lembra da passagem de Allred pelos mutantes X-Táticos já sabe o quão lisérgico é o seu traço, multicolorido e de cores chapadas, sem quaisquer sombras ou demais artifícios cinematográficos a la Frank Miller. Allred bebe diretamente na fonte dos clássicos quadrinistas sessentistas, especialmente Jack Kirby – e seus roteiros seguem a mesmíssima linha. Misture boas doses de non-sense e demais personagens bizarros (prepare-se para o amigo de Madman, o alien Mott, do planeta Hoople, e o também estranhíssimo Homem-Músculo e seus tênis vermelhos de basquete) com o futurismo retrô típico da década de 60: monstrões gigantescos, beatniks de boininha, robôs dos mais variados tipos e tamanhos – incluindo um que é referência direta ao Astro Boy – e cientistas esquisitos com seus cérebros inchados.
Para quem está meio cansado do sexo, da violência, dos palavrões, dos personagens infernais e dos demônios de quadrinhos adultos do tipo Vertigo, nada melhor do que relaxar um pouco deixando o cérebro na porta e entrando de cabeça em uma viagem rumo à inocência da Era de Ouro – mas com as esquisitices que só um autor como Allred consegue fazer. “Madman” não tem tramas ocultas, finais surpresa e nem nada disso. É diversão pipoca, daquele tipo blockbuster, com seus personagens carismáticos e balanceando na medida certa humor e ação. Mas um blockbuster que respeita – e muito – a inteligência do espectador.
Madman Comics – Volume 1 / Editora: Pixel Media / Roteiro e desenhos: Mike Allred / 160 páginas / Papel couché / R$ 30
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