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Artigo adicionado em 24/07/2006, às 08:21

CLICK: o Adam Sandler não sabe brincar
Alguém… por favor… me dê… um controle remoto! Pegue aquele clássico livro do Charles Dickens, Conto de Uma Noite de Natal, substitua o velho avarento por um arquiteto workaholic, e os espíritos dos Natais por um Christopher Walken bizarro e um controle remoto igualmente surreal. Nunca leu a obra do Dickens? Simples. Pegue aquela velha […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Pegue aquele clássico livro do Charles Dickens, Conto de Uma Noite de Natal, substitua o velho avarento por um arquiteto workaholic, e os espíritos dos Natais por um Christopher Walken bizarro e um controle remoto igualmente surreal. Nunca leu a obra do Dickens? Simples. Pegue aquela velha história batida que pode se transformar em pavores como Soltando os Cachorros ou coisinhas divertidas como Hook A Volta do Capitão Gancho. E preencha a lacuna do plot “homem que não dá atenção para a família encontra ___________ para depois voltar ao normal totalmente mudado e carinhoso” com a sentença “um controle remoto que rege as coisas ao seu redor”.

Michael Newman (Adam Sandler, Espanglês) é um arquiteto comedor de fast food que vive uma vida junkie e não dá atenção para sua esposa, mesmo que ela seja a Kate Beckinsale, ande pela casa com shorts mínimos e seja mais ou menos o modelo de esposa submissa perfeito (o cara pode passar 10 anos agindo como um porco, e ela continua lá sorrindo e paciente). Com ela, Newman teve duas crianças também perfeitas, Samantha e Ben. O chefe da família quer tanto o bem de seus filhos que, para lhes dar uma vida melhor que a que ele teve quando novo, não se importa em passar dias inteiros longe de casa e noites em claro trabalhando para que seu patrão (David Hasselhoff) lhe dê sua tão esperada promoção. Ironicamente, assim se afasta cada vez mais da sua própria família. Ele está tão por fora do que acontece em sua casa, que nem sabe diferenciar o controle remoto da televisão do controle do carrinho do filho. Em um momento de revolta, Michael resolve comprar um controle remoto universal, daqueles que controlam desde a tv até o ventilador de teto de sua casa, e é então que se depara com Morty (Christopher Walken), um funcionário sinistro que lhe oferece o melhor controle remoto universal já inventado. Ao levá-lo para casa, Michael percebe que o aparelho funciona de forma bizarra: tem efeito sobre sua vida. Ou seja, com o novo amiguinho, o personagem de Sandler não só pode diminuir o barulho da gritaria de seus filhos como pode acessar partes de sua vida através da “Seleção de Capítulos”. A partir de então, uma série de acontecimentos vai jogando o personagem em uma avalanche trágica da qual não consegue sair tão facilmente. Tudo porque ele não soube usar o controle remoto.

Chegou a hora de você dizer “Puxa, então é melhor do que eu imaginava! Não é apenas o Adam Sandler fazendo piadas infelizes rebobinando ou avançando coisas, mas sim uma grande metáfora: a vida é um grande filme e o controle remoto está nas nossas mãos. Não viva em piloto automático, viva todos os momentos de sua vida sem apertar o Fast Forward. Aproveite sua família. A HORA É AGORA. Snif snif snof”. Uau, você é sagaz! Acertou em cheio. É exatamente isso que o filme quer nos passar. É, é uma idéia legal, afinal, né? Mas não quando os personagens precisam esfregar na nossa cara, minuto a minuto, que essa é a mensagem do filme. Qualquer ser normal, quando assiste ou lê alguma coisa, não quer que a moral da história seja explicada detalhadamente. Principalmente quando ela é muito simples e está tão na cara quanto nessa produção. A tal moral tem que ser simplesmente percebida, sem que um professor Chattoff pare a projeção, com um livro de auto-ajuda na mão e nos dê uma lição de vida enquanto violinos choram ao fundo. Uma coisa é certa: quando Click acaba, você sai do cinema sabendo direitinho qual é a do filme. Sabendo até melhor do que os roteiristas, pode apostar.

Mais do que uma tendência, agora já está virando até clichê fazer filmes com a temática “memória”. Só nos últimos três anos, várias produções tratando do assunto foram lançadas nos cinemas, das quais se destacaram principalmente o maravilhoso Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e o tal do Efeito Borboleta (aquele filme que só eu achei um pé no saco). A sensacional trilogia De Volta para o Futuro também falou disso, de forma mais oitentista e aventuresca. Explorar o território das memórias, da teoria do caos, e do que aconteceria no futuro se uma coisinha fosse mudada agora é uma coisa legal por si só e que pode dar um material mais do que supimpa para o desenvolvimento de um filme. E é verdade: todo mundo gosta de imaginar onde estará daqui a uns anos (e invariavelmente erra). Da mesma forma, todo mundo gostaria de viver novamente algumas partes da vida. Pra consertar uns errinhos ou simplesmente se divertir. Né não?

Aí é a hora ideal para chegarem os tapadinhos de Hollywood. Eles descobrem que esse tema é interessante. Aí começam a ter idéias. A pensar. Idéias essas que nem são tão ruins, veja só, mas que, somadas a uma câmera na mão errada, resultam em desastre. Eles querem ser tão legais, tão estilosos e uauauaus quanto os exemplos do parágrafo anterior… mas não são. Em “Click”, não satisfeitos em quererem misturar a fórmula batida do pai ausente com elementos meio surreais que dão certo apenas em produções caprichadas conduzida por gente boa, quiseram se levar a sério. Pois é. A salada desandou mesmo quando os senhores roteiristas/diretores/produtores resolveram brincar de comédia dramática. Comédia dramática é um gênero que precisa de muito cuidado, pra não virar um drama com algumas cenas de comédia que de tão ruins acabam dramáticas, ou uma comédia com cenas de drama tão péssimas que viram parte da comédia. E “Click” virou uma cruza desses dois, com a única diferença de que algumas piadas se salvam. Umas três, se você estiver muito bem humorado. Umas cinco, se você costuma rir de piadas quando as escuta pela segunda ou nonagésima oitava vez.

Fora uma ou outra raras piadas e a trilha sonora, pouca coisa aqui se salva. O personagem do Christopher Walken me encantou logo de cara. Porque o ator já é bizarro do jeito que eu gosto, e esse tipo de personagens misteriosos que surgem em um lugar esquisito cantando músicas esquisitas, agindo de maneira esquisita e fazendo propostas esquisitas são meus favoritos. Mas, cena vai, cena vêm, ele resolve fazer uma declaração desnecessária sobre sua identidade. E acaba com toda a graça. Qual é a neurose que esses roteiristas têm em explicar a origem de personagens que ficariam muito mais legais misteriosos até o fim do filme? Mas eita. O Willy Wonka que o diga. Agora, imbatível como sempre é o trashíssimo David Hasselhoff. Aquele do Baywatch. Não que o sujeito tenha talento, mas apenas o fato de ele ESTAR LÁ já deixa qualquer cena engraçada. Poxa, é o cara do Baywatch! =D Tem também o Sean Astin (o eterno Sam ou o Mickey dos Goonies) de sunga vermelha, mas prefiro não me atentar a esse detalhe.

Mas não tem pra ninguém: nem Kate Beckinsale, nem as crianças, nem os atores coadjuvantes, nem todos os cachorros tarados e nem mesmo o pato de pelúcia conseguem atuar pior do que o Adam Sandler. É triste ver que “Click” poderia ser muito melhor se apenas uma coisa fosse mudada: o ator principal. Eu não sou uma detratora do Adam Sandler. Não assisti muita coisa dele, é verdade, mas achei o seu trabalho em Como se Fosse a Primeira Vez bonitinho, engraçadinho, sem muito sal ou muito açúcar. Não acho que ele seja o melhor comediante da face da Terra, mas não tenho maiores reclamações a seu respeito. Bem, não TINHA. Até agora. Colocassem como protagonista um Robin Williams em seu papel-padrão ou mesmo o Jim Carrey, que já provou ser ainda melhor em dramas do que em comédias, e mais da metade dos problemas já estariam acabados. Se, então, o roteirista fosse Charlie Kauffman, teríamos uma coisa realmente legal. Mas o que temos é sim a prova de que uma idéia pode se tornar um lixo atômico ou um sucesso de público e crítica, depende só nas mãos de quem vai cair.

Tenha cuidado. “Click” começa divertidinho. Além da trilha sonora bacanuda, logo no início, quando Michael adquire seu controle, alguns momentos até conseguem sair dos clichês. Toda a idéia por trás desse controle remoto, afinal (ver a sua vida como o Menu de um DVD, por exemplo), é bacana, sim. Nem parece ser uma perda total. Isso, até o momento em que Adam Sandler precisa encarar a primeira cena com carga dramática. A partir de então o que seria “suportável” em um filme normal passa a ser ridículo, e você não consegue enxergar mais nada, além da inexpressividade de nosso caro protagonista. Por isso, não se deixe enganar pela aparência inocente do filme. Sua tendência é piorar, conforme os minutos passam e a carga dramática começa a aumentar mais ou menos como capítulo final de novela das oito. Os roteiristas devem ter achado isso genial. Mas não foi genial.

Resumo da ópera: Saldo negativo: Adam Sandler, roteiro que tenta ser tão genial que acaba metendo os pés pelas mãos / Saldo positivo: trilha sonora batuta, idéia (a princípio) interessante, David Hasselhoff. Mas, acredite: Adam Sandler correndo pela chuva arrastando aparelhos de hospital ao som de uma orquestra emocionada, tentando – note bem: TENTANDO – chorar e gritando “família, família, família” consegue fazer a balança pender pro lado negativo de forma rápida e cruel.

Não estamos falando do horror do cinema ou algo nesses moldes. “Click” é triste, muito triste. E pode te levar às lágrimas. Não porque a história – que em determinado ponto, chega a parecer um dramalhão mexicano – seja conduzida de forma tocante. Mas sim porque durante a uma hora e quarenta minutos de projeção, o teor de Vergonha Alheia no seu sangue sobe de maneira drástica. Você fica com vergonha do roteirista, do diretor, de você mesmo, de todo mundo que cedeu dinheiro a essa produção. E é aí que começa a chorar loucamente. Mas a maior vergonha alheia é mesmo dedicada ao Adam Sandler. Alguém precisa falar pra ele voltar às comédias românticas. Antes que seja tarde demais.

:: CURIOSIDADES

Dolores O’Riordan, a vocalista dos Cranberries, canta em uma cena do filme.

– Esse é o terceiro trabalho com a dupla Coraci-Adam Sandler. O diretor e ele já trabalharam juntos em O Rei da Água e Afinado no Amor (ambos de 1998).

– Sandler e Sean Astin já trabalharam juntos em “Como se Fosse a Primeira Vez”.

– Os próximos projetos de Frank Coraci no cinema serão a adaptação de Quem Mexeu no meu Queijo?, Porque os Homens fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor e O Monge e o Executivo. Tá, é brincadeira! =D

Click (Título original: Click) / Ano: 2006 / Produção: Estados Unidos / Direção: Frank Coraci / Roteiro: Steve Koren e Mark O’Keefe / Elenco: Adam Sandler, Kate Beckinsale, Christopher Walken, David Hasselhoff, Sean Astin, Henry Winkler, Julie Kavner / Duração: 107 minutos.


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